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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

“Peixe na água”, de Mario Vargas Llosa: boa sugestão de leitura para Dilma Rousseff e José Serra

Ao tempo em que candidatos disputam para ver quem é mais beato; quem é mais contra a descriminalização do aborto (pelo histórico, ambos são a favor, mais os dois candidatos negam); ao tempo em e que a religião assume papel preponderante na eleição presidencial brasileira – e aproveitando que Mario Vargas Llosa foi vencedor do Prêmio Nobel de Literatura reli Peixe na água.




Memória
É um livro de memórias, talvez um dos menos comentados do escritor, com justiça laureado com o maior prêmio mundial de literatura.
Nele, com a destreza habitual, Vargas Llosa conta como foi a sua candidatura, em 1990, à Presidência do Peru, que ele perdeu para Alberto Fujimori, de triste memória (ele e alguns de seus assessores foram condenados e presos, acusados desde corrupção, passando por assassinatos e violação aos direitos humanos).
Faria bem se Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) lessem o livro.
Eles veriam com que dignidade Vargas Llosa se portou quando seu adversário foi acusado de ser menos peruano do que ele, pela ascendência japonesa de Fujimori. Vargas Llosa deu declarações públicas e discursou contra a discriminação que pesava contra Fujimori. Proibiu seus partidários de fazerem ataques racistas e discriminatórios ao adversário, no que teve pouco sucesso, ele mesmo revela.
Eleições no Peru
Mostra como se portou quando quiserem transformar a eleição em uma guerra religiosa, com os adversários acusando-o de “ateísmo”. (Estranhamente, ele, um agnóstico, era visto como a salvação pela hierarquia católica peruana, acuada pelo avanço dos evangélicos, que se perfilaram, em sua maioria com Fujimori.)
E via, com horror, a disputa eleitoral “adotando uma fisionomia de guerra religiosa, em que os ingênuos temores, os preconceitos e as armas limpas se misturavam aos sujos golpes baixos e às mais pérfidas manobras, de um e outro lado, a extremos que beiravam a farsa e o surrealismo”.
Além disso, ele faz uma impiedosa análise do sistema político peruano, que serve para toda a América Latina e também para países de outros continentes.
Liberdade
Vargas Llosa não poupa nem mesmo o Liberdade, movimento criado por ele e alguns partidários. O Movimento Liberdade era radicalmente liberal com um conjunto de propostas “neoliberais”.
Relata como os oportunistas “com uma pequena corte ou séquito de parentes, amigos e protegidos” se apresentavam a ele “como dirigentes populares”, trocando de ideologia e partido como “quem muda de camisa”.
“Eram sempre eles que, depois das manifestações, tentavam carregar-me nos ombros – costume ridículo, imitação dos toureiros, de que cheguei a ser obrigado a defender-me a pontapés (…) Lidar com caciques, tolerar os caciques, servir-me dos caciques, foi coisa que jamais soube fazer” (pág. 165)
E viu, na campanha do segundo turno, “os níveis de imundícies em que tanto os meus partidários como meus adversários haveriam de incorrer”.
De bônus, intercalando capítulos com o relato das eleições, suas memórias mais antigas.
Vou transcrever alguns trechos do livro (edição de 1993, da Companhia das Letras). Leia a seguir.
Mobilização publicitária
“Depois, em janeiro de 1990, quando deveríamos ter retomado a campanha de idéias, vimo-nos a braços com a formidável mobilização publicitária de descrédito voltada para a desvirtuação de nossas propostas com ataques à minha pessoa, apresentando-me como pornógrafo, incestuoso, cúmplice dos assassinos de Uchuraccay, sonegador de impostos e vários horrores mais.” (pág. 364)
Pornógrafo
“Um delas [as manobras dos adversários] me apresentava como pervertido e pornógrafo: a prova disso seria meu romance Elogio da Madrasta, que foi lido inteiro, à razão de um capítulo por dia, pelo canal 7, do Estado, no horário de audiência máxima.” (pág. 408)
Cavalo de batalha
“Outro cavalo de batalha da Apra [partido do governo] era meu ‘ateísmo’. ‘Peruano! Você quer um ateu na presidência do Peru?’, interrogava uma clipe exibido pela televisão onde aparecia um rosto semimonstruoso – o meu…” (pág. 409)
Peruanos
“Estávamos discutindo [no comitê que funcionava em sua própria casa] quando ouvi, na rua, que os manifestantes haviam começado a gritar slogans de coloração racista e nacionalista – ‘Mário sim é peruano’. ‘Queremos um peruano’, além de outros insultantes – e, indignado, saí para falar com eles do terraço de minha casa, com a ajuda de um megafone. Era inconcebível que as pessoas que me apoiavam fizessem discriminação entre os peruanos em razão da pele. [...] Era possível ser peruano sendo branco, índio, chinês, negro ou japonês. O engenheiro Fujimori era tão peruano quanto eu.” (pág. 466)
Campanha negativa
“[Quando a sua assessoria tenta convencê-lo de que seria preciso uma campanha negativa contra Fujimori] Eu disse que só daria a minha aprovação à divulgação de informações comprováveis. Mas daquela reunião em diante pude intuir os escabrosos níveis de imundícies em que tanto os meus partidários como meus adversários haveriam de incorrer nas semanas subseqüentes.” (pág. 477)
Guerra religiosa
“A partir desse momento a luta eleitoral foi adotando uma fisionomia de guerra religiosa, em que os ingênuos temores, os preconceitos e as armas limpas se misturavam aos sujos golpes baixos e às mais pérfidas manobras, de um e outro lado, a extremos que beiravam a farsa e o surrealismo”. (pág. 483)
Impulsos obscuros
“Durante os dois meses de campanha para o segundo turno tentei resumir nossa proposta em algumas idéias, que repeti, incansavelmente, da maneira mais simples e direta, sob um invólucro de imagens populares. Mas as pesquisas semanais foram mostrando com clareza cada vez maior que a imensa maioria tomava sua decisão de voto por causa das pessoas e de impulsos obscuros, nunca por programas.” (pág. 174)
Circe
“Mas, naquele ponto da campanha, eu já sabia que no Peru são raros os políticos a quem essa Circe [bruxa] que é a política não transforma em porcos.” (pág. 408)
Aprendizado
“Muita coisa aprendi no processo eleitoral, e a pior delas foi descobrir que a crise peruana não devia ser medida apenas em termos de contrates, derrocada da instituições, aumento acelerado da violência; ao mesmo tempo tudo isso somado criara determinadas condições nas quais o funcionamento da democracia passava a ser uma espécie de paródia na qual os mais cínicos e espertos sempre levavam a melhor.” (pág. 504)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A DROGA DA OBEDIÊNCIA - autor PEDRO BANDEIRA


Pedro Bandeira, o escritor do livro, é um dos maiores escritores infanto-juvenis da literatura. Com 77 obras publicadas é de se esperar que o cara seja craque! O post de hoje vai falar sobre o primeiro livro de uma coleção bem conhecida: Os karas. Aliás, foi um dos meus primeiros livros e eu lembro de cada detalhe da história até hoje.
Magrí, Calú, Crânio, Chumbinho e Miguel são “Os Karas”: um grupo de amigos do Colégio Elite que desvendam crimes que, se antes eram singelos, agora tomam uma dimensão absurdamente grave. Com esconderijo secreto, reuniões e planos bem feitos, o pequeno grupo começa a desvendar crimes até então misteriosos na cidade de São Paulo.
No livro, “A Droga da Obediência”, os meninos detetives querem investigar uma série de seqüestros que ocorrem com alunos de diversas escolas do Estado de São Paulo, dentre elas, seu próprio colégio onde um amigo próximo também é seqüestrado. Depois de muito raciocínio e perigo, descobrem a “Pain Control” que, como a tradução já diria, é uma espécie de organização que quer controlar a dor de toda a raça humana com elementos químicos (especificamente com certas drogas produzidas) e com o Dr Q.I, um louco que leva a frente de toda a quadrilha querendo impor suas ordens malucas para testar obediência.
Com todo seu dinamismo, “Os Karas”, que também é composto por Magri a única menina do grupo, acabam entrando nessa roubada para salvar os seqüestrados e a sociedade inteira. O problema é que o tal Dr Q.I precisa de seus súditos e de suas ordens. E a obediência é comprida de tal maneira que dá até arrepio em quem não pertence ao eterno grupo do Colégio Elite.
Para quem gosta de um certo suspense e adora sentir aquela vontade absurda de entrar dentro das páginas para ajudar: esse é o livro certo. Só que para isso, é preciso obedecer…

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amanhecer - Stephenie Meyer



Resumo do livro Amanhecer

                                Se você é fã da série Crepúsculo e ainda não teve oportunidade de comprar o livro Amanhecer que é a ultima aventura de Edward e Bella, então leia o resumo do livro Amanhecer aqui com a gente. O lançamento no Brasil já aconteceu e você  pode comprar Amanhecer nas livrarias.
Bella e Edward se casam e passam a Lua-de-Mel no Brasil, mas eles voltam repentinamente pois Bella descobre que está grávida.
Edward quer que Bella faça um aborto pois tem medo de que a criatura a mate. Bella, que não é a favor do aborto, pede ajuda a Rosalie e ela cuida para que ninguém se aproxime de Bella durante a gravidez.
O bebê representa uma "maldição" para os Lobisomens, pois não sabem que criatura irá nascer e que tipo de perigo representa. O bando planeja destrui-la antes que ela nasça, e consequentemente Bella também. Jacob não aceita isso e se rebela contra o bando.
Bella definha a medida que a gestação avança e logo os Cullen descobrem que devem alimentar Bella com sangue para que a criança não a mate, e ela segue a instrução.
A gestação dura pouquíssimo tempo, a criança nasce e Edward transforma Bella em uma vampira antes que ela morra depois do parto. Ela descobre que pode controlar seus desejos por sangue melhor do que se esperava de um recém-nascido. A criança é uma menina, e recebe o nome de Renesmee.
Bella conta a seu pai sobre sua vida, mas não revela diretamente que é uma vampira. Alice vê que os Volturi estão vindo para matar Renesmee, acreditando que ela era uma criança que havia sido transformada em vampiro, por causa do depoimento de Irina Denali, e isso era proibido. Alice vai embora com Jasper logo depois.
Carlisle, Esme, Rosalie e Emmett chamam todos os vampiros que eles conhecem, com a intenção de fazer os Volturi pararem para ouvir a real explicação da origem de Reneesme. Todos esperam na mansão Cullen até que os Volturi chegam.
Bella descobre que tem o poder de criar um escudo envolta de si, e pára a luta. Irina é morta por Caius, que não aceitava que não houvesse batalha. As irmãs de Irina (Tanya e Kate) avançaram, porém os outros conseguiram contê-las.
Quando os Cullen, seus amigos, os Lobisomens e os Volturi estão frente a frente e a batalha parece iminente, Alice aparece, trazendo outro meio-vampiro, meio-humano para provar que não há problema em deixar Reneesmee viver.

sábado, 28 de agosto de 2010

CAROLINA autor CASIMIRO DE ABREU


Esta é a historia de uma jovem que após se perder com um homem,de quem engravida, se envereda na prostituição é um retrato claro de uma época de conservadorismo e tabus sexuais; A história escrita por Casimiro de Abreu, se assemelha em muito com outras historias de amor que tem a traição e a tragédia por pano de fundo, tipo Romeu e Julieta de Shakespeare, e tantas outras; No entanto surpreende-nos pelas conseqüências finais dos caminhos escolhidos pelos três personagens principais Augusto o apaixonado pela donzela Carolina e Fernando o don Juan da historia que se identifica como um incorrigível conquistador de donzelas, e com quem Carolina se envolveu traindo a confiança de seu amado Augusto, e a personagem central, já citada, Carolina descrita como a meiguice em pessoa e que amava a Augusto. 
A historia começa com Augusto se despedindo de Carolina para ir a uma viajem de negócios, os dois trocam juras de amor e se prometem guardar todo amor deles para a ocasião do reencontro ali embaixo daquela arvore frondosa, no entanto apenas seis mais tarde Carolina se envolve amorosamente com Fernando que a desflora e a abandona a própria sorte. O autor da um pulo no tempo levando nos a ao retorno de Augusto e sua decepção ao ver que a família da sua amada se mudara devido à vergonha resultante do envolvimento e gravidez de Carolina, que abandonou o lar. Augusto parte para Lisboa e passa a descrever a um amigo provavelmente Fernando os dois lados de uma grande metrópole desde a opulência dos ricos as miseráveis vidas dos desafortunados, ambos vão parar num meretrício onde Fernando, como meio de Augusto esquecer uma antiga paixão, o incentiva a se entregar ao usufruto do sexo, sem cultivar o amor que segundo ele se causa dor e decepção. 
O destino sempre é generoso nos desenrolar das historias românticas, e nessa não poderia ser diferente, Augusto e Fernando sobem ao 4º andar dum prédio a cata de uma prostituta se deparando com Carolina que conta para Augusto ter sido Fernando que se aproveitou de um momento de fraqueza dela lhe engravidando e a deixando sozinha, sem outra saída acabara se entregando a vida fácil; Augusto fica cheio de ódio de Fernando, pois era seu amigo desde a infância, lhe atraca pelo pescoço e o mata fugindo em seguida. 
A consciência de Augusto atormentava-lhe pelo crime cometido a ponto de adoecer, mas ao recobrar a saúde voltou ao meretrício no afã de reencontrar Carolina, mas ela já tinha ido embora deixando uma carta aos cuidados da dona da casa de prostituição, onde a jovem pedia perdão por ter traído Augusto e confessa ainda amá-lo muito. 
Carolina acabou por não resistir tanto sofrimento e morreu, antes porem deixando mais uma carta onde lamentava sua forma de agir, e falando de sua morte. 
Acredito que se você chegou até aqui é por que gostou desta historia que envolve amor, paixão e ódio, e não pense que isso só acontece em ficção, mesmo na vida real esse sentimento entre homem e mulher que alguns chamam de amor outros de paixão tem rendido boas historias em todas esferas da humanidade.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O DIARIO DE UM MAGO - PAULO COELHO



O Diário de um Mago - Paulo CoelhoO diário de um mago é uma promessa de que com seu pé e seu passo você é absolutamente capaz de fazer seu caminho, de atingir seu sonho e conquistar sua espada. 
O livro conta a história da jornada de três meses que Paulo Coelho peregrinou pelos quase 700 km pela cidade de Santiago de Compostela. A obra relata a saga de Paulo Coelho que busca pelos mistérios sagrados da magia, conta também sobre seu encontro com um mago italiano que é seu guia, as experiências místicas conhecidas como As Práticas de RAM e a passagem por um dos três caminhos sagrados da antigüidade: O Caminho de Santiago de Compostela. 
Neste livro, narrado na primeira pessoa, o autor faz uma descrição detalhada de uma viagem, na qual se compromete quando comete o erro de iniciar como mágico. É necessário que faça este trajeto, porque dele depende a entrega da sua espada nova que substitui a anterior, enterrada por ele mesmo, sem possibilidade de revogar a ação. Esta espada significa muito para o protagonista da trama, pois representa todo o poder que se pode desenrolar numa nova face de perfeição como homem, que o leva a um nível superior na dita tradição. O caminho de Santiago, especialmente a rota francesa, foi percorrido por ele. Muito conhecido desde o tempo das cruzadas, cheio de mistérios e tradições. O personagem principal deste romance irá ver-se envolto nuns cem números de situações, que resultam em provas que terá de ultrapassar para atingir o seu objetivo. Em algumas oportunidades contará com a ajuda de um estranho companheiro que servirá de guia no seu trajeto pela grande extensão de terra entre a sua meta física e espiritual. 
Concluímos que neste livro vemos a possibilidade de interagir de alguma maneira com o protagonista, porque ainda que narre uma história já passada, algumas imagens são detalhadas, alguns rituais mágicos que o autor teve que executar para superar momentos críticos e avançar para os níveis de perfeição espiritual. Alguns exercícios representam o renascer do ser humano, a relação entre a vida e a morte, a interação entre o ser humano e o divino por meio da comunicação com o anjo da guarda, paciência, autocontrole. Ensinam a caminhar de uma maneira desconhecida para muitos, ficando-se pelos detalhes que ainda que sejam quotidianos, não nos apercebemos da sua presença e muitas vezes da sua importância nas nossas vidas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O DIARIO DE ANNE FRANK - O maior documentário da 2ªGuerra Mundial



Anne Frank nasceu em 1929 em Frankfurt no seio de uma família judia. Era filha de Edith e Otto e irmã de Margot. 

Em 1933, o partido Nazista ascende ao poder, e o pai de Anne decide sair da Alemanha. Vão viver para a Holanda, com o objetivo de fugirem às investidas de Hitler, e buscando alguma segurança e tranqüilidade. Instalam-se em Amsterdã e durante 7 anos aí viveram despreocupadamente. 

Em 1940, contudo, a Holanda foi ocupada pelos Nazistas e tudo mudou: 
todos os judeus foram obrigados a bordar a Estrela de David nas roupas; tiveram de entregar as bicicletas e foram proibidos de andar de automóvel e de elétrico; só podiam fazer compras a determinadas horas do dia e apenas em lojas judias; foram proibidos de freqüentar teatros e cinemas; as crianças só podiam freqüentar escolas judias. 

Apesar de tudo, Anne era uma menina feliz, a quem o pai tentava proteger do que se passava. No dia em que fez 13 anos, Otto ofereceu-lhe um diário, de capa forrada a tecido xadrez. Sem saber, Otto provocou um feito histórico, permitindo que milhares de pessoas conhecessem Anne. 

Neste diário, Anne decide escrever cartas a uma amiga imaginária, a quem deu o nome de Kitty. A ela relatava o seu dia-a-dia, e as dificuldades por que passavam por serem judeus. 

Em Julho de 1942, a família recebe uma notificação para que Margot se apresente num campo de trabalhos – isto fez com que Otto antecipasse os planos de fazer desaparecer a família. Mudam-se então para um esconderijo localizado nas traseiras do seu escritório, ao qual se tinha acesso por uma porta escondida por uma estante. Mais tarde juntaram-se a eles a família Van Pels e Fritz Pfeffer. 

Os moradores do Anexo Secreto contavam com a ajuda de alguns funcionários de Otto, que os mantinham informados do que se passava lá fora e que lhes traziam mantimentos. 

Anne passava a maior parte do seu tempo a estudar e a escrever – o diário era o seu escape. No mesmo, ela diz que escrevia para “aliviar o coração”, porque assim a dor desaparecia e a coragem regressava. Anne relatou com pormenor o modo como os dias eram passados no anexo, as suas angústias, medos, alegrias e o amor que sentia por Peter. 

A 4 de Agosto de 1944, a polícia invadiu o esconderijo e todos foram presos. Até hoje desconhece-se quem os denunciou. Anne e a família foram enviados para um campo de trabalhos em Westerbork e mais tarde para Auswitz, na Polónia, onde Edith viria a morrer. Anne e Margot são então enviadas para Bergen-Belsen, onde viriam a morrer com tifo, poucas semanas antes do campo ser libertado.

O Diário de Anne Frank foi publicado pelo seu pai Otto Frank com a ajuda da escritora Mirjam Pressler, após o fim da segunda guerra mundial e com o diário de sua filha em mãos ele se dedicou a divulgar a obra de Anne, 1980 ele morre mais deixa uma grande trabalho feito. . 

É difícil nos imaginar numa situação dessa, como Anne foi forte, ela era uma garota que foi privada da melhor coisa: a liberdade. Seus conflitos familiares eram grandes principalmente com sua mãe. É interessante que na primeira edição muitas coisas são cortadas, pois Otto sabia que seria um choque falar das brigas de Anne com a mãe, da sexualidade da filha em 1947, somente nessa edição integral saiu tudo. Reclamamos por tão pouco, temos tudo e mesmo assim somos egoístas e insatisfeitos 
com tudo, seria melhor agradecer do que reclamar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A moreninha - Autor do livro: Joaquim Manuel de Macedo



A moreninha



Chegava o dia de Sant’ana e Filipe convidou seus amigos Leopoldo, Fabrício e Augusto para irem à ilha de Paquetá, na casa de sua avó D. Ana. Conversando, os jovens estudantes de medicina, questionam a inconstância de Augusto em seus romances e assim, fizeram uma aposta. Filipe apostou com Augusto que indo para a ilha ele acabaria apaixonado por uma das moças que lá estaria e que se ele se mantivesse apaixonado quinze dias por uma só moça ele lhe escreveria um romance contando o fato, caso contrário Filipe escreveria um romance contando sua derrota. 

Chegava o dia de irem para ilha, Fabrício escreveu uma carta pedindo a ajuda de Augusto, pois seu namoro com D. Joana não estava bem. Ele agia de forma clássica em seus romances, mas por questionamentos de Augusto resolveu agir de forma romântica e assim se envolveu com a prima, de Filipe, D. Joana, e a moça, a partir de então, não lhe deixava em paz com exigências. Queria que Augusto o ajudasse a se livrar da moça. 
Assim chegaram à ilha, Augusto foi interceptado por uma senhora que lhe tomou numerosas horas com narrações maçantes, quando finalmente se viu livre de tal senhora foi ter com D. Carolina, irmã de Filipe, mas nesse momento Fabrício o convocou para uma palavra. Pediu-lhe a resposta da carta, mas Augusto havia perdido a paciência com a maçante senhora e, além disso, não teve oportunidade de ficar com D.Carolina; recusou a ajuda. 

Fabrício, então para se vingar da recusa ao pedido, revelou na mesa de jantar as inconstâncias nos amores de Augusto, ele se defendeu alegando que não podia se prender e amar uma só senhora, pois enquanto uma tinha um sorriso cativante outra tinha um lindo colo e assim justicava-se pela beleza do sexo oposto. Depois do jantar todas as senhoras, temendo o rapaz, o deixaram sozinho. Por fim D.Ana lhe concedeu o braço e foram passear. 

Caminharam até chegar a uma gruta e lá foi novamente questionado pela sua inconstância, então revelou por que agia de tal forma. Quando tinha seu treze anos, encontrou-se na praia com uma menina travessa que devia ter seus oito anos, logo os dois se tornaram grandes camaradas e decidiram se casar, passaram a tratar um ao outro como “meu esposo” e “minha mulher”. Assim não se importaram com nomes, continuavam a brincar quando chegou um menino chorando até eles. 
O pai do menino estava morrendo, correram os três até uma cabana, Augusto e sua “mulher” encontraram um velho moribundo, sua mulher e seus filhos, deram todo dinheiro que tinham para a família, o velho então os abençoou e sabendo do desejo que tinham de se casarem, pediu a eles um objeto de valor. Augusto lhe entregou um camafeu de ouro e a menina um botão de esmeralda. O velho entregou o camafeu de ouro para a menina e o botão de esmeralda para o menino, dessa forma no futuro se reconheceriam e se casariam. Assim os dois foram embora, a menina foi ao encontro dos pais e nunca mais se viram. 

Não amou nunca mais, até que questionado iniciou seus namoros, primeiro namorou a uma moça morena que depois de lhe jurar gratidão e ternura casou-se com um velho de sessenta anos. Depois amou a uma corada que em um baile ouviu-a dizer a outro que ele era um pobre rapaz com quem se divertia, em terceiro amou a uma jovem pálida que zombava dele e do primo ao mesmo tempo, jurou então não amar nem um desses três tipos de moça, mas então percepeu que assim não podia amar nem sua “mulher” então depois de uma canção iniciou sua inconstância. 

A cada ponto dessa narração ouvia alguém correndo na porta da gruta, mas quando ia lá só via a travessa D. Carolina, distante a se divertir. Explicando-se foi até uma fonte ao fundo da gruta e bebeu de sua água em um copo que ficava ali justamente pra isso. Após beber D.Ana contou-lhe sobre a lenda daquela fonte que era na verdade as lágrimas de uma virgem que muito chorou em cima do rochedo da gruta por não ser correspondida pelo mancebo que todos os dias visitava àquela ilha, as gotas de suas lágrimas penetraram o rochedo e caíram sobre o mancebo que acabou apaixonando pela virgem. E ali ficara a fonte, dizia a lenda que quem bebesse daquela fonte não sairia da ilha sem amar um de seus habitantes. 
Logo que saíram da gruta D.Carolina estava em cima do rochedo cantando a canção que a virgem cantava. Assim voltaram todos para a casa. 
Estando na casa caiu café sobre as calças brancas de Augusto que foi trocá-las, Filipe lhe disse que poderia se trocar no quarto das moças, Augusto acabou aceitando e assim que estava de siroulas entram no quarto: Joana, Gabriela, Quinquina e Clementina. O rapaz correu e se escondeu debaixo da cama e lá ficou ouvindo as confidências das moças. Essas foram interrompidas por um berro de Carolina, as moças saíram e em seguida Augusto saiu vestido. 
A serva Paula que amamentara Carolina havia bebido muito ao fazer companhia para o S. Kleberc e estava desmaiada. Logo muitos diagnósticos vieram, Filipe e seus amigos disseram o que tinha acontecido, logo viram que se tratava de bebida, mas como Carolina não acreditaria e seria mais divertido mentir inventaram loucuras acerca do que havia acontecido. Logo a noite seguiu cheia de diversão. 

No entanto, Augusto não se agradava com os jogos que os jovens faziam, faltava ali D. Carolina. D. Ana vendo a inquietação do rapaz perguntou-lhe o que tinha e com a resposta mandou ir procurá-la, achou-a junto a Paula, acabava de brigar com uma escrava que dizia que a água para o escalda-pés da outra estava muito quente, e assim decidiu por si mesma fazer. Logo a vendo segurar os gemidos provados pela dor da água fervendo Augusto se ofereceu a fazer ele mesmo o escalda-pés. 
De início Augusto achara Carolina feia, depois a achara travessa e agora estava a ponto de achá-la bela. E todos viam que Carolina deitava maior delicadeza para ele. Assim seguiu os dias. Durante um sarau Augusto se declarou para quatro senhoras, essas depois reunidas desobrindo tais declarações decidiram que fariam uma brincadeira com ele para se vingarem, escreveram-lhe um bilhete pedindo que fosse para a gruta no dia seguinte onde lhe esperariam, assinaram como uma incógnita. 
Mas Carolina havia ouvido tudo e com outro bilhette anônimo contou a verdade para Augusto, mas mesmo assim ele foi até a gruta só que quem riu foi ele, ao chegar lá disse que adivinharia segredos das quatros assim que bebesse da água da fonte que era mágica. Assim em particular falou a elas sobre os segredos que elas mesmos haviam revelado naquele dia no quarto. Assim todas foram embora, quando Augusto ia sair apareceu Carolina na gruta e disse que ela lhe revelaria agora o passado presente e futuro dele. 

Falou-lhe sobre a “sua mulher” e sobre as moças que o ignoraram, falou que no futuro, estaria apaixonado e esqueceria sua mulher e depois lhe falou sobre o presente. Por fim voltaram todos à corte. Mas Augusto não era o mesmo, confidenciou a Fabrício que amava Carolina, essa, na ilha, andava entre suspiros e deixara de ser a menina travessa que era. 
Assim no fim de semana seguinte Filipe voltou à ilha, e disse que no dia seguinte Augusto viria. Logo Carolina se alterou e no dia seguinte vestida de branco foi para cima do rochedo quando a embaração de Augusto apontou, a menina voltou para casa, ele da embarcação conseguiu vê-la, mas rapidamente a perdeu. Foi um dia agradável, Carolina se tornou a sua “bela mestre” e Augusto o seu “aprendiz” e assim ela o ensinava a bordar. A cada erro dele a menina dava-lha um puxão de orelha e nesse momento suas mãos se apertavam no encontro. 

No domingo seguinte voltou e como tarefa trouxe um lenço bordado, mas Carolina se encheu de ciúme pois o lenço estava perfeito e assim a pobre acreditou que ela havia tomado outra mestre, mas depois de tudo esclarecido, ele tinha pago pelo lenço, voltaram ao que era antes e foram brincar com as bonecas dela. Depois, enquanto caminhavam na praia, Augusto declarou que a amava. 
Quando voltou pra a corte seu pai estava lá e com a chegado do domingo não o permitu que fosse até a ilha, trancou-o no quarto e assim o rapaz adoeceu. Carolina também se mostrava muito infeliz. Até que chegou um homem à ilha e em conferência com D.Ana explicou que o rapaz estava doente. Com a chegada do domingo e também a notícia da melhora de Augusto, Carolina subiu ao rochedo e foi esperá-lo. Junto veio o pai dele. D.Ana e o pai de Augusto ficaram muito tempo a conversar até que os dois amantes foram chamados. 

D. Ana havia concedido a mão da neta a Augusto, perguntaram se ela aceitava o menino, depois de muito acanhamento pediu que dessem a ela meia hora e foi até a gruta. Antes do tempo se dar Augusto foi pra lá, Carolina então lhe disse que antes de aceitá-lo tinha que ter o perdão de sua “mulher” e que ele fosse procurá-la, antes dele sair da gruta Carolina lhe entregou o camafeu de ouro. Ela era sua “mulher”. Filipe, Fabrício e Leopoldo chegaram também à ilha e o noivado foi celebrado. O romance que Augusto devia já estava pronto e chamava-se “A moreninha”.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

VIDAS SECAS - Graciliano Ramos

                                                                   

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Os abalos sofridos pelo povo brasileiro em torno dos acontecimentos de 1930, a crise econômica provocada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, a crise cafeeira, a Revolução de 1930, o acelerado declínio do nordeste condicionaram um novo estilo ficcional, notadamente mais adulto, mais amadurecido, mais moderno que se marcaria pela rudeza, por uma linguagem mais brasileira, por um enfoque direto dos fatos, por uma retomada do naturalismo, principalmente no plano da narrativa documental, temos também o romance nordestino, liberdade temática e rigor estilístico.
Os romancistas de 30 caracterizavam-se por adotarem visão crítica das relações sociais, regionalismo ressaltando o homem hostilizado pelo ambiente, pela terra, cidade, o homem devorado pelos problemas que o meio lhe impõe.
Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrângulo, Alagoas. Estudou em Maceió, mas não cursou nenhuma faculdade. Após breve estada no Rio de Janeiro como revisor dos jornais "Correio da Manhã e A Tarde", passou a fazer jornalismo e política elegendo-se prefeito em 1927.
Foi preso em 1936 sob acusação de comunista e nesta fase escreveu "Memórias do Cárcere", um sério depoimento sobre a realidade brasileira. Depois do cárcere morou no Rio de Janeiro. Em 1945, integrou-se no Partido Comunista Brasileiro.
Graciliano estreou em 1933 com "Caetés", mas é São Berdado, verdadeira obra prima da literatura brasileira. Depois vieram "Angustia" (1936) e Vidas Secas (1938) inspirando-se em Machado de Assis.
Podemos justificar isto com passagens do texto:
"Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos."
"A caatinga estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas"
"Resolvera de supetão aproveitá-lo (papagaio) como alimento..."
"Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores".
ESTUDO DOS PERSONAGENS
Baleia - cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças.
Sinhá Vitória - mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida.
Fabiano - nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos - crianças pobres sofridas e que não tem noção da própria miséria que vivem.
Patrão - contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados.
Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).
ESTUDO DA LINGUAGEM
Tipo de discurso: indireto livre
Foco narrativo: terceira pessoa
Adjetivos, figuras de linguagem:
Metáfora: " - você é um bicho, Fabiano".
Prosopopéia: compara Baleia como gente
ANÁLISE DAS IDÉIAS
Comentário Crítico:
Esse livro retrata fielmente a realidade brasileira não só da época em que o livro foi escrito, mas como nos dias de hoje tais como injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, o que nos remete a idéia de que o homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência.
RESUMO DA OBRA
Mudança
Em meio à paisagem hostil do sertão nordestino, quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam numa peregrinação silenciosa. O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim, deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita Fabiano, seu pai, que lhe dá estocadas com a faca no intuito de fazê-lo levantar. Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços e carrega-o, tornando a viagem ainda mais modorrenta.
A cadela Baleia acompanha o grupo de humanos agora sem a companhia do outro animal da família, um papagaio, que fora sacrificado na véspera a fim de aplacar a fome que se abatia sobre aquelas pessoas. Na verdade, era um papagaio estranho, que pouco falava, talvez porque convivesse com gente que também falava pouco.
Errando por caminhos incertos, Fabiano e família encontram uma fazenda completamente abandonada. Surge a intenção de se fixar por ali. Baleia aparece com um preá entre os dentes, causando grande alegria aos seus donos. Haveria comida. Descendo ao bebedouro dos animais, em meio à lama, Fabiano consegue água. Há uma alegria em seu coração, novos ventos parecem soprar para a sua família. Pensa em Seu Tomás da bolandeira. Pensa na mulher e nos filhos.
A inesperada caça é preparada, o que garante um rápido momento de felicidade ao grupo. No céu, já escuro, uma nuvem - sempre um sinal de esperança. Fabiano deseja estabelecer-se naquela fazenda. Será o dono dela. A vida melhorará para todos.
Fabiano
Em vão Fabiano procura por uma raposa. Apesar do fracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação da família, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda. Estavam bem agora. Fabiano se orgulha de vencer as dificuldades tal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter um lugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante. Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil das pessoas da cidade. Era um bicho.
A uma pergunta de um dos filhos, Fabiano irrita-se. Para que perguntar as coisas? Conversaria com Sinha Vitória sobre isso. Essas coisas de pensamento não levavam a nada. Seu Tomás da bolandeira, apesar de admirado por Fabiano pelas suas palavras difíceis, não acabara como todo mundo? As palavras, as idéias, seduziam e cansavam Fabiano.
Pensou na brutalidade do patrão, a tratá-lo como um traste. Pensou em Sinha Vitória e seu desejo de possuir uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira. Eles não poderiam ter esse luxo, cambembes que eram. Sentiu-se confuso. Era um forte ou um fraco, um homem ou um bicho? Sentia, por vezes, ímpeto de lutador e fraqueza de derrotado.
Lembrando dos meninos, novamente, achou que, quando as coisas melhorassem, eles poderiam se dar ao luxo daquelas coisas de pensar. Por ora, importante era sobreviver. Enquanto as coisas não melhorassem, falaria com Sinha Vitória sobre a educação dos pequenos.
Cadeia
Fabiano vai à feira comprar mantimentos, querosene e um corte de chita vermelha. Injuriado com a qualidade do querosene e com o preço da chita, resolve beber um pouco de pinga na bodega de seu Inácio. Nisso, um soldado amarelo convida-o para um jogo de cartas. Os dois acabam perdendo, o que irrita o soldado, que provoca Fabiano quando esse está de partida. A idéia do jogo havia sido desastrosa. Perdera dinheiro, não levaria para casa o prometido. Fabiano, agora, pensava em como enganar Sinha Vitória, mas a dificuldade de engendrar um plano o atormentava.
O soldado, provocador, encara o vaqueiro e barra-lhe a passagem. Pisa no pé de Fabiano que, tentando contornar a situação à sua maneira, agüenta os insultos até o possível, terminando por xingar a mãe do soldado amarelo. Destacamento à sua volta. Cadeia. Fabiano é empurrado, humilhado publicamente.
No xadrez, pensa por que havia acontecido tudo aquilo com ele. Não fizera nada, se quisesse até bateria no mirrado amarelo, mas ficara quieto. Em meio a rudes indagações, enfureceu-se, acalmou-se, protestou inocência. Amolou-se com o bêbado e com a quenga que estavam em outra cela. Pensou na família. Se não fosse Sinha Vitória e as crianças, já teria feito uma besteira por ali mesmo. Quando deixaria que um soldadinho daqueles o humilhasse tanto? Arquitetou vinganças, gritou com os outros presos e, no meio de sua incompreensão com os fatos, sentiu a família como um peso a carregar.
Sinha Vitória
Naquele dia, Sinha Vitória amanhecera brava. A noite mal dormida na cama de varas era o motivo de sua zanga. Falara pela manhã, mais uma vez, com Fabiano sobre a dificuldade de dormir naquela cama. Queria uma cama de lastro de couro, como a de Seu Tomás da bolandeira, como a de pessoas normais.
Havia um ano que discutia com o marido a necessidade de uma cama decente e, em meio a uma briga por causa das "extravagâncias" de cada um, Sinha Vitória certa vez ouviu Fabiano dizer-lhe que ela ficava ridícula naqueles sapatos de verniz, caminhando como um papagaio, trôpega, manca. A comparação machucou-a.
Agora, ela irritava-se com o ronco de Fabiano ao lembrar-se de suas palavras. Circulando pela casa, fazia suas tarefas em meio a reza e a atenção ao que acontecia lá fora. Por pensar ainda na cama e na comparação maldosa de Fabiano, quase esqueceu de pôr água na comida. Veio-lhe a lembrança do bebedouro em que só havia lama. Medo da seca. Olhou de novo para seus pés e inevitavelmente achou Fabiano mau. Pensou no papagaio e sentiu pena dele.
Lá fora, os meninos brincavam em meio à sujeira. Dentro de casa, Fabiano roncava forte, seguro, o que indicava a Sinha Vitória que não deveria haver perigo algum por ali. A seca deveria estar longe _ . As coisas, agora, pareciam mais estáveis, apesar de toda a dificuldade. Lembrou-se de como haviam sofrido em suas andanças. Só faltava uma cama. No fundo, até mesmo Fabiano queria uma cama nova.
O Menino mais novo
A imagem altiva do pai foi que lhe fez surgir a idéia. Fabiano, armado como vaqueiro, domava a égua brava com o auxílio de Sinha Vitória. O espetáculo grosseiro excitava o menor dos garotos, impressionado com a façanha do pai e disposto a fazer algo que também impressionasse o irmão mais velho e a cachorra Baleia. No dia seguinte, acordou disposto a imitar a façanha do pai. Para tanto, quis comunicar a intenção ao mano, mas evitou, com medo de ser ridicularizado.
Quando as cabras foram ao bebedouro, levadas pelo menino mais velho e por Baleia, o pequeno tomou o bode como alvo de sua ação. Sentia-se altivo como Fabiano quando montava. No bebedouro, o garoto despencou da ribanceira sobre o animal, que o repeliu. Insistente, tentou se aprumar mas foi sacudido impiedosamente, praticando um involuntário salto mortal que o deixou, tonto, estatelado ao chão. O irmão mais velho ria sem parar do ridículo espetáculo, Baleia parecia desaprovar toda aquela loucura. Fatalmente seria repreendido pelos pais. Retirou-se humilhado, alimentando a raivosa certeza de que seria grande, usaria roupas de vaqueiro, fumaria cigarros e faria coisas que deixariam Baleia e o irmão admirados.
O Menino mais velho
Aquela palavra tinha chamado a sua atenção: inferno. Perguntou à Sinha Vitória, vaga na resposta. Perguntou a Fabiano, que o ignorou. Na volta à Sinha Vitória, indagou se ela já tinha visto o inferno. Levou um cascudo e fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhia tentando alegrá-lo naquela hora difícil.
Decidiu contar à cachorrinha uma história, mas o seu vocabulário era muito restrito, quase igual ao do papagaio que morrera na viagem. Só Baleia era sua amiga naquele momento. Por que tanta zanga com uma palavra tão bonita ? A culpa era de Sinha Terta, que usara aquela palavra na véspera, maravilhando o ouvido atento do garoto mais velho.
Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Como poderiam existir estrelas? Pensou novamente no inferno. Deveria ser, sim, um lugar ruim e perigoso, cheio de jararacas e pessoas levando cascudos e pancadas com a bainha da faca. Sempre intrigado, abraçou-se à Baleia como refúgio.
Inverno
Todos estavam reunidos em volta do fogo, procurando aplacar o frio causado pelo vento e pela água que agitava a paisagem fora da casa. Chegara o inverno, e isso reunia a família próxima à fogueira. Pai e mãe conversavam daquele jeito de sempre, estranho, e os meninos, deitados, ficavam ouvindo as histórias inventadas por Fabiano, de feitos que ele nunca tinha realizado, aventuras nunca vividas. Quando o mais velho levantou-se para buscar mais lenha, foi repreendido severamente pelo pai, aborrecido pela interrupção de sua narrativa.
A chuva dava à família a certeza de que a seca não chegaria por enquanto. Isso alegrava Fabiano. Sinha Vitória, porém, temia por uma inundação que os fizesse subir ao morro, novamente errantes. A água, lá fora, ampliava sua invasão.
Fabiano empolgava-se mais ainda em contar suas façanhas. A chuva tinha vindo em boa hora. Após a humilhação na cidade, decidira que, com a chegada da seca, abandonaria a família e partiria para a vingança contra o soldado amarelo e demais autoridades que lhe atravessassem o caminho. A chegada das águas interrompera aqueles planos sinistros. Em meio à narrativa empolgada, Fabiano imaginava que as coisas melhorariam a partir dali; quem sabe, Sinha Vitória até pudesse ter a cama tão desejada.
Para o filho mais novo, o escuro e as sombras geradas pela fogueira faziam da imagem do pai algo grotesco, exagerado. Para o mais velho, a alteração feita por Fabiano na história que contava era motivo de desconfiança. Algo não cheirava bem naquele enredo. Sempre pensativo, o menino mais velho dormiu pensando na falha do pai e nos sapos que estariam lá fora, no frio.
Baleia, incomodada com a arenga de Fabiano, procurava sossego naquela paisagem interior. Queria dormir em paz, ouvindo o barulho de fora.
Festa
A família foi à festa de Natal na cidade. Todos vestidos com suas melhores roupas, num traje pouco comum às suas figuras, o que lhes dava um ar ridículo. A caminhada longa tornava-se ainda mais cansativa por causa daquelas roupas e sapatos apertados. O mal-estar era geral, até que Fabiano cansou-se da situação e tirou os sapatos, metendo as meias no bolso, livrando-se ainda do paletó e da gravata que o sufocava. Os demais fizeram o mesmo. Voltaram ao seu natural. Baleia juntou-se ao grupo.
Chegando à cidade, foram todos lavar-se à beira de um riacho antes de se integrarem à festa. Sinha Vitória carregava um guarda-chuva. Fabiano marchava teso. Os meninos maravilham-se, assustados, com tantas luzes e gente. A igreja, com as imagens nos altares, encantou-os mais ainda. O pai espremia-se no meio da multidão, sentindo-se cercado de inimigos. Sentia-se mangado por aquelas pessoas que o viam em trajes estranhos à sua bruta feição. Ninguém na cidade era bom. Lembrou-se da humilhação imposta pelo soldado amarelo quando estivera pela última vez na cidade.
A família saiu da igreja e foi ver o carrossel e as barracas de jogos. Como Sinha Vitória negou-lhe uma aposta no bozó, Fabiano afastou-se da família e foi beber pinga. Embriagando-se, foi ficando valente. Imaginava, com raiva, por onde andava o soldado amarelo. Queria esganá-lo. No meio da multidão, gritava, provocava um inimigo imaginário. Queria bater em alguém, poderia matar se fosse o caso. Vez ou outra, interrompia suas imprecações para uma confusa reflexão. Cansado do seu próprio teatro, Fabiano deitou no chão, fez das suas roupas um travesseiro e dormiu pesadamente.
Sinha Vitória, aflita, tinha que olhar os meninos, não podia deixar o marido naquele estado. Tomando coragem para realizar o que mais queria naquele momento, discretamente esgueirou-se para uma esquina e ali mesmo urinou. Em seguida, para completar o momento de satisfação, pitou num cachimbo de barro pensando numa cama igual à de seu Tomas da bolandeira .
Os meninos também estavam aflitos. Baleia sumira na confusão de pessoas, e o medo de que ela se perdesse e não mais voltasse era grande. Para alívio dos pequenos, a cachorrinha surge de repente e acaba com a tensão. Restava, agora, aos pequenos, o maravilhamento com tudo de novo que viam. O menor perguntou ao mais velho se tudo aquilo tinha sido feito por gente. A dúvida do maior era se todas aquelas coisas teriam nome. Como os homens poderiam guardar tantas palavras para nomear as coisas?
Distante de tudo, Fabiano roncava e sonhava com soldados amarelos.
Baleia
Pêlos caídos, feridas na boca e inchaço nos beiços debilitaram Baleia de tal modo que Fabiano achou que ela estivesse com raiva. Resolveu sacrificá-la. Sinha Vitória recolheu os meninos, desconfiados, a fim de evitar-lhes a cena.
Baleia era considerada como um membro da família, por isso os meninos protestaram, tentando sair ao terreiro para impedir a trágica atitude do pai. Sinha Vitória lutava com os pequenos, porque aquilo era necessário, mas aos primeiros movimentos do marido para a execução, lamentou o fato de que ele não tivesse esperado mais para confirmar a doença da cachorrinha.
Ao primeiro tiro, que pegou o traseiro da cachorra e inutilizou-lhe uma perna, as crianças começaram a chorar desesperadamente.
Começou, lá fora, o jogo estratégico da caça e do caçador. Baleia sentia o fim próximo, tentava esconder-se e até desejou morder Fabiano. Um nevoeiro turvava a visão da cachorrinha, havia um cheiro bom de preás. Em meio à agonia, tinha raiva de Fabiano, mas também o via como o companheiro de muito tempo. A vigilância às cabras, Fabiano, Sinha Vitória e as crianças surgiam à Baleia em meio a uma inundação de preás que invadiam a cozinha. Dores e arrepios. Sono. A morte estava chegando para Baleia.
Contas
Fabiano retirava para si parte do que rendiam os cabritos e os bezerros. Na hora de fazer o acerto de contas com o patrão, sempre tinha a sensação de que havia sido enganado. Ao longo do tempo, com a produção escassa, não conseguia dinheiro e endividava-se.
Naquele dia, mais uma vez Fabiano pedira a Sinha Vitória para que ela fizesse as contas. O patrão, novamente, mostrou-lhe outros números. Os juros causavam a diferença, explicava o outro. Fabiano reclamou, havia engano, sim senhor, e aí foi o patrão quem estrilou. Se ele desconfiava, que fosse procurar outro emprego. Submisso, Fabiano pediu desculpas e saiu arrasado, pensando mesmo que Sinha Vitória era quem errara.
Na rua, voltou-lhe a raiva. Lembrou-se do dia em que fora vender um porco na cidade e o fiscal da prefeitura exigira o pagamento do imposto sobre a venda. Fabiano desconversou e disse que não iria mais vender o animal. Foi a uma outra rua negociar e, pego em flagrante, decidiu nunca mais criar porcos.
Pensou na dificuldade de sua vida. Bom seria se pudesse largar aquela exploração. Mas não podia! Seu destino era trabalhar para os outros, assim como fora com seu pai e seu avô.
As notas em sua mão impressionavam-no. "Juros", palavra difícil que os homens usavam quando queriam enganar os outros. Era sempre assim: bastavam palavras difíceis para lograr os menos espertos. Contou e recontou o dinheiro com raiva de todas aquelas pessoas da cidade. Sinha Vitória é que entendia seus pensamentos.
Teve vontade de entrar na bodega de seu Inácio e tomar uma pinga. Lembrou-se da humilhação passada ali mesmo e decidiu ir para casa. o céu, várias estrelas. Deixou de lado a lembrança dos inimigos e pensou na família. Sentiu dó da cachorra Baleia. Ela era um membro da família.
O Soldado Amarelo
Procurando uma égua fugida, Fabiano meteu-se por uma vereda e teve o cabresto embaraçado na vegetação local. Facão em punho, começou a cortar as quipás e palmatórias que impediam o prosseguimento da busca. Nesse momento, depara-se com o soldado amarelo que o humilhara um ano atrás. O cruzar de olhos e o reconhecimento durou fração de segundos. O suficiente para que Fabiano esfolasse o inimigo. O soldado claramente tremia de medo. Também reconhecera o desafeto antigo e pressentia o perigo.
Fabiano irritou-se com a cena. O outro era um nadica. Poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. A fragilidade do outro aos poucos foi aplacando a raiva de Fabiano. Ponderou que ele mesmo poderia ter evitado a noite na cadeia se não tivesse xingado a mãe do amarelo. No meio daquela paisagem isolada e hostil, só os dois, e se ele pedisse passagem ao soldado? Aproximou-se do outro pensando que já tinha sido mais valente, mais ousado. Na verdade, na fração de segundo interminável Fabiano ia descobrindo-se amedrontado. Se ele era um homem de bem, para que arruinar a sua vida matando uma autoridade? Guardaria forças para inimigo maior.
Sentindo o inimigo acovardado, o soldado ganhou força. Avançou firme e perguntou o caminho. Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo.
O Mundo Coberto de Penas
A invasão daquele bando de aves denunciava a chegada da seca. Roubavam a água do gado, matariam bois e cabras. Sinha Vitória inquietou-se. Fabiano quis ignorar, mas não pôde; a mulher tinha razão. Caminhou até o bebedouro, onde as aves confirmavam o anúncio da seca. Eram muitas. Um tiro de espingarda eliminou cinco, seis delas, mas eram muitas. Fabiano tinha certeza, agora, de uma nova peregrinação, uma nova fuga.
Era só desgraça atrás de desgraça. Sempre fugido, sempre pequeno. Fabiano não se conformava, pensava com raiva no soldado amarelo, achava-se um covarde, um fraco. Irado, matou mais e mais aves. Serviriam de comida, mas até quando ? Quem sabe a seca não chegasse...Era sempre uma esperança. Mas o céu escuro de arribações só confirmava a triste situação. Elas cobriam o mundo de penas, matando o gado, tocando a ele e à família dali, quem sabe comendo-os.
Recolheu os cadáveres das aves e sentiu uma confusão de imagens em sua cabeça. Aquele lugar não era bom de se viver. Lembrou-se de Baleia, tentou se convencer de que não fizera errado em matá-la, pensou de novo na família e no que as arribações representavam. Sim, era necessário ir embora daquele lugar maldito. Sinha Vitória era inteligente, saberia entender a urgência dos fatos.
Fuga
O céu muito azul, as últimas arribações e os animais em estado de miséria indicavam a Fabiano que a permanência naquela fazenda estava esgotada. Chegou um ponto em que, dos animais, só sobrou um bezerro, que foi morto para servir de comida na viagem que se faria no dia seguinte.
Partiram de madrugada, abandonando tudo como encontraram. O caminho era o do sul. O grupo era o mesmo que errava como das outras vezes. Fabiano, no fundo, não queria partir, mas as circunstâncias convenciam-no da necessidade.
A vermelhidão do céu, o azul que viria depois assustavam Fabiano. Baleia era uma imagem constante em seus confusos pensamentos. Sinha Vitória também fraquejava. Queria, precisava falar. Aproximou-se do marido e disse coisas desconexas, que foram respondidas no mesmo nível de atrapalhação.

Na verdade, ele gostou que ela tivesse puxado conversa. Ela tentou animar o marido, quem sabe a vida fosse melhor, longe dali, com uma nova ocupação para ele. Marido e mulher elogiam-se mutuamente; ele é forte, agüenta caminhar léguas, ela, tem pernas grossas e nádegas volumosas, agüenta também. A cidade, talvez, fosse melhor. Até uma cama poderiam arranjar. Por que haveriam de viver sempre como bichos fugidos?
Os meninos, longe, despertavam especulações ao casal. O que seriam quando crescessem? Sinha Vitória não queria que fossem vaqueiros. O cansaço ia chegando à medida que avançava a caminhada, e assim houve uma parada para descanso. Novamente marido e mulher conversavam, fazendo planos, temendo o mau agouro das aves que voavam no céu.
Sinha Vitória acordou os pequenos, que dormiam, e seguiu-se viagem. Fabiano ainda admirou a vitalidade da mulher. Era forte mesmo! Assim, a cada passo arrastado do grupo um mundo de novas perspectivas ia sendo criado. Sinha Vitória falava e estimulava Fabiano. Sim, deveria haveria uma nova terra, cheia de oportunidades, distante do sertão a formar homens brutos e fortes como eles.